Ambipar obteve, nesta terça‑feira, uma medida cautelar do 3º Tribunal Empresarial do Rio de Janeiro que bloqueia cláusulas contratuais que poderiam antecipar o vencimento de suas dívidas. A ação judicial foi movida pela própria empresa para evitar que credores como Deutsche Bank e Santander exijam o pagamento imediato de obrigações vinculadas a swaps e green bonds, que totalizam cerca de US$ 550 milhões.
A justiça determinou a suspensão de duas frentes: a primeira impede que quaisquer cláusulas de garantias contratuais sejam acionadas para acelerar o pagamento da dívida; a segunda paralisa a exigibilidade das obrigações, garantindo à Ambipar um prazo para renegociar com os credores sem a pressão de execuções.
O conflito começou quando o Deutsche Bank passou a exigir garantias adicionais para os empréstimos relacionados aos green bonds da empresa, alegando que não existia respaldo contratual para tais garantias. Essa pressão foi descrita pelos representantes da Ambipar como "risco iminente e concreto". Simultaneamente, o Santander informou que pretende acelerar o vencimento dos pagamentos, ampliando o temor de um efeito bola de neve entre os demais credores.
Em resposta, a Ambipar afirmou estar "em saúde financeira adequada" e que mantém os pagamentos em dia com empregados, fornecedores, tributos e instituições financeiras. A companhia ainda destacou que, ao final do segundo trimestre, possui cerca de R$ 4,7 bilhões em caixa, embora o passivo de curto prazo seja de aproximadamente R$ 616 milhões.
A decisão judicial ainda conta com a nomeação de quatro auxiliares de justiça para acompanhar o caso, sinalizando que o tribunal pretende monitorar de perto as negociações que devem acontecer nos próximos 30 a 45 dias, período em que a empresa pode solicitar formalmente recuperação judicial.
Ao ser publicada a notícia da medida cautelar, as ações da Ambipar despencaram cerca de 40%, cotadas a R$ 6,04 nas negociações pré‑mercado. O recuo refletiu o receio dos investidores diante de uma possível deterioração do crédito, reforçado pelos recentes downgrade das agências de rating: a S&P rebaixou a nota de "BB-" para "D" (default) e a Fitch baixou de "BB-" para "C", logo acima do default.
Os analistas apontam que, embora a empresa tenha caixa considerável, o gargalo está na exposição a contratos de swap atrelados a índices estrangeiros. O próprio grupo descreve o negócio como "terrível" e suspeita de irregularidades na sua estruturação, o que tem motivado investigações internas contra o ex‑diretor financeiro.
Além do impacto imediato nas ações, a medida pode mudar o cenário de negociação com os bancos. Caso a Ambipar consiga arranjar novos acordos ou mesmo anular aditivos que exigem garantias extras, a pressão sobre o caixa poderia ser aliviada, permitindo à companhia manter seu plano de expansão via aquisições. Caso contrário, o risco de um processo de recuperação judicial se torna mais provável, o que alteraria drasticamente a governança da empresa.
Para os credores, a medida cautelar cria um período de espera que pode ser usado para avaliar a viabilidade de concessões de prazo ou mesmo a participação em um eventual plano de recuperação. Já para os fornecedores e empregados, a declaração de que a empresa está em dia com suas obrigações ajuda a conter a propagação de boatos de inadimplência.
Em suma, a Ambipar vive um momento delicado: possui recursos financeiros suficientes para honrar compromissos de curto prazo, mas enfrenta um impasse legal envolvendo mais de meio bilhão de dólares em dívida derivativa. A resposta do judiciário oferece um respiro temporário, mas a real solução dependerá da capacidade da empresa de renegociar com os bancos e de esclarecer as supostas irregularidades nos contratos de swap.
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