Trump denuncia ONU e afirma que países "vão para o inferno" na 80ª Assembleia Geral

Contexto da 80ª Assembleia Geral da ONU

No dia 23 de setembro de 2025, a cidade de Nova Iorque recebeu, pela oitava década, diplomatas, chefes de Estado e representantes da sociedade civil para a 80ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. O evento, tradicionalmente marcado por discursos que delineiam as prioridades globais, teve como abertura a fala do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que enfatizou a cooperação climática e a importância da COP 30, que será sediada em Belém.

Logo em seguida subiu ao púlpito Trump, ex‑presidente dos Estados Unidos, gerando uma ruptura de tom entre o discurso conciliador de Lula e a retórica combativa que o americano costuma empregar. A presença de Trump, embora inesperada, foi vista como um teste ao novo posicionamento dos EUA no cenário multilateral após a sua saída de diversos acordos internacionais nos últimos anos.

Os principais pontos do discurso de Trump

Os principais pontos do discurso de Trump

A fala durou cerca de uma hora e continha os elementos típicos de sua agenda: nacionalismo, ceticismo em relação às instituições internacionais e uma postura agressiva ao apontar "culpados". Entre os tópicos abordados, destacam‑se:

  • Crítica à ONU: Trump acusou a organização de ser ineficaz, declarando que os recursos dos EUA continuam sendo desperdiçados em projetos que não trazem retorno direto ao país.
  • “Alguns países estão indo para o inferno”, disse ele ao se referir a nações que, segundo sua visão, não compartilham dos valores ocidentais ou que recebem ajuda dos EUA sem contrapartida.
  • America First: reafirmou que a política externa americana deve priorizar os interesses nacionais, reduzindo o envolvimento em intervenções humanitárias e acordos climáticos.
  • Negação da mudança climática: o ex‑mandatário repetiu sua descrença nos relatórios científicos, argumentando que a “agenda climática” é um pretexto para taxar a indústria americana.
  • Financiamento da ONU: questionou a continuidade dos aportes financeiros dos EUA, sugerindo que o dinheiro poderia ser redirecionado para a segurança nacional e projetos de infraestrutura interna.
  • Conflito em Gaza: apesar da postura isolacionista, pediu o fim imediato das hostilidades, porém enfatizou que a solução deveria vir de negociações bilaterais, e não de resoluções da ONU.
  • Comentário sobre Lula: em um tom inesperado, descreveu a química com o presidente brasileiro como “excelente” e até abraçou Lula no palanque, criando um contraste entre a rivalidade política e a cordialidade pessoal.

O discurso refletiu a continuidade da estratégia que Trump adotou durante seu mandato: retirada de acordos multilaterais como o Acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde, e a promoção de uma política externa centrada na soberania nacional. Essa postura, embora criticada por grande parte da comunidade internacional, ainda encontra eco em setores conservadores dentro dos EUA que defendem a redução da presença americana em organismos globais.

Especialistas em relações internacionais apontam que o discurso pode ter duas motivações principais: reforçar a base política doméstica de Trump, que ainda cultiva um eleitorado nostálgico ao seu período presidencial, e enviar um sinal claro aos aliados europeus de que a cooperação multilateral não será mais garantida sem concessões significativas.

Além das críticas institucionais, a negação da ciência climática reforçou o dilema que o planeta enfrenta. Enquanto Lula se prepara para liderar a COP 30, o posicionamento de Trump pode dificultar acordos de financiamento climático que dependem da contribuição americana.

O discurso também reacendeu o debate interno da ONU sobre a necessidade de reformas estruturais. Países em desenvolvimento, que historicamente veem a organização como ferramenta de apoio, temem que a retórica de "países indo para o inferno" possa alimentar políticas de corte de verbas e menor engajamento nos projetos de paz e desenvolvimento.

Em resumo, a fala de Trump na 80ª Assembleia Geral expôs de forma crua o abismo entre o modelo unilateral que ele defende e o espírito cooperativo que sustenta a ONU desde sua fundação após a Segunda Guerra Mundial. Enquanto a comunidade internacional busca soluções conjuntas para desafios como a pobreza, a desigualdade e os conflitos armados, a visão de Trump permanece centrada na supremacia dos interesses americanos, sinalizando que a batalha pela definição do futuro da governança global está longe de terminar.

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